segunda-feira

Vermelhinho, Amarelinho, Pretinha e Branquinha - Brigitte Minne



Numa aldeia, existe um largo. Nesse largo há quatro casas. As mães que vivem no largo acham que é bom que os filhos brinquem ao ar livre.
— Vão brincar lá para fora — dizem. É por isso que Vermelhinho, Amarelinho, Pretinha e Branquinha brincam muitas vezes juntos.
Lá perto existe um parque com um lago para onde as crianças costumam ir. E não muito longe do lago, há uma árvore. Vermelhinho quer sempre ocupar o ramo mais alto para ver todo o lago. — Estou a ver uma mãe pata com os seus filhotes — exclama. Ou ainda: — Que pássaro magnífico! O bico parece uma colher!
Amarelinho, Pretinha e Branquinha gostariam de ver os patinhos bebés e o pássaro de bico em forma de colher, mas não têm autorização. São obrigados a ficar no seu ramo. Como se a árvore e o lago pertencessem só a Vermelhinho.
Naquela árvore, Vermelhinho, Amarelinho, Pretinha e Branquinha construíram uma cabana. Pintada de vermelho, está claro. É que Vermelhinho não quis ouvir falar de outra cor. De forma nenhuma!
De vez em quando, é preciso fazer limpeza à cabana. — Tu, tu limpas o chão! — grita Vermelhinho. E Branquinha lá se põe a esfregar. Amarelinho, esse, recebe ordens para lavar muito bem a porta com sabão. Enquanto Amarelinho, Branquinha e Pretinha andam numa roda-viva, Vermelhinho não faz nada.
É sempre a mesma coisa! Mas Amarelinho, Branquinha e Pretinha nunca se atrevem a resmungar.
Quando Pretinha joga a bola, Vermelhinho também quer jogar.
Quando Branquinha se senta na bola, Vermelhinho também quer lá sentar-se.
Quando Amarelinho quer brincar com o carrinho, Vermelhinho diz-lhe: — Dói-me a cabeça. Não faças barulho!
Não passa de uma mentira, mas ninguém se atreve a fazer frente a Vermelhinho.
Um dia, Vermelhinho grita: — A árvore é minha e todos os brinquedos também.
Pretinha vira-se para Amarelinho que se volta para Branquinha. — Não é justo — murmura escandalizada. — Não tens o direito de fazer isso!
— Sim, tenho, sua palerma de tranças! — grita Vermelhinho.
Pretinha não é idiota e sente-se muito orgulhosa das suas tranças. Sente uma raiva terrível subir por ela acima. — E tu és um tirano! — grita. — Estou farta da tua árvore, da tua cabana e dos teus brinquedos!
E vai-se embora.
“O que Pretinha teve a coragem de fazer, eu também tenho!”, pensou Branquinha.
— És um chato! — grita ela para Vermelhinho.
Depois, é a vez de Amarelinho se revoltar: — Palerma!
E os dois apoderam-se do barco vermelho e correm para junto de Pretinha, soltando gritos de alegria.
Vermelhinho fica só. — Não preciso de vocês! — ouvem-no resmungar.
Branquinha, Amarelinho e Pretinha depressa pintam de novo o barco. Amarelinho pinta o leme de amarelo, a cor dos chupas de limão e da flor do dente-de-leão. Pretinha pinta o casco de preto. — Negro como uma linda noite estrelada — acrescenta, orgulhosa. Branquinha pinta a cabine de branco. — É como a neve— exclama. O barco está magnífico.
Pretinha, Amarelinho e Branquinha estão doidos de alegria.
— Quem é o capitão? — pergunta Amarelinho. — Eu! — grita Pretinha que salta para dentro do barco e se agarra ao leme. Branquinha morde os lábios. — Eu também quero ser capitã — murmura com um bocadinho de inveja. — Tu não és a única — acrescenta Amarelinho.
Se Vermelhinho lá estivesse, as coisas seriam mais simples. — E se fôssemos à vez capitães? — propõe Pretinha. — Boa ideia — aprovam os outros dois.
Com Pretinha ao leme, o barco nem sequer avança um palmo. É com um certo alívio que entrega a direcção a Branquinha. Esta bem se agarrou ao leme, mas nada mudou. O barco só deslizou um bocadinho. Chega a vez de Amarelinho. De tanto baloiçar ficou enjoado e já não tem vontade de ser capitão!
Vermelhinho continua a brincar aos chefes. Como está sozinho, é obrigado a dar ordens a si mesmo:
— Limpa o chão! — diz muito alto. E limpa o chão até não poder mais.
— Não te esqueças de limpar os cantos! — grita.
Ao esfregar, tropeça na esfregona.
— Vê onde pões os pés, seu palerma! — Vermelhinho já não pode mais. Acaba por rebentar: — Palerma! Nem jeito tens para chefe!
De tão furioso que está, até dá bofetadas a si mesmo! Depois, desata a chorar e corre para a árvore. Vê Pretinha, Branquinha e Amarelinho lá longe, no barco.
Vermelhinho compreende finalmente o que custa ser chefe. Os chefes aborrecem-
-no. Pretinha, Branquinha e Amarelinho tiveram razão em ir embora. Vermelhinho já não tem amigos. Chora em silêncio. — Vou construir uma vela — pensa.
— Fiz uma vela para vocês — grita Vermelhinho.
Pretinha vira-se para Amarelinho que se volta para Branquinha. — Bem precisamos dela! — suspira Branquinha. Os três ajudam Vermelhinho a subir para dentro do barco. Vermelhinho mantém-se calmo, mas em breve o desejo de mandar volta a fazer-lhe comichão. — Posso ser o capitão? — pergunta. — Podes sê-lo, até regressarmos à nossa árvore — diz Amarelinho. Vermelhinho pega no leme e grita: — Icem a vela e limpem a ponte!
Algum tempo depois, Pretinha, Amarelinho e Branquinha largam escovas e vassouras. — O que se passa? — pergunta Vermelhinho muito admirado.
— Estamos quase a chegar — lembram-lhe os três amigos. Então, Vermelhinho abandona o leme…
A partir daquele dia, cada um dirige o barco à vez. Se vissem a velocidade a que ele vai!
Até se esquecem de voltar para casa!


Brigitte Minne et Carll Cneut
RougeJauneNoireBlanche
Paris, Ed. Pastel, l’école des loisirs, 2002
Tradução e adaptação